São Paulo - Quando Bill Gates defendeu, no final dos anos 70, que cada trabalhador deveria ter um computador em sua mesa e, depois, que cada pessoa teria um PC em sua casa, a tese do cofundador da Microsoft pareceu absurda até para especialistas em tecnologia.
Na época, diretores de gigantes como a IBM defenderam que não faria sentido para uma pessoa comum ter um computador pessoal em casa.
Scott Hassan, ex-engenheiro do Google e fundador da startup de robótica Willow Garage, gosta de contar a história acima para sustentar que a tese de que os robôs invadirão os lares.
mundo afora não é um absurdo. “Muita gente ainda acha que robôs são artigos de ficção científica e que eles não têm muito a fazer em nossas casas”, diz Hassan, que há três anos dedica-se exclusivamente ao desenvolvimento de uma plataforma de robôs pessoais.
Ao contrário de Gates, no entanto, Hassan aposta no software livre para tentar disseminar seu principal produto, o PR2, um robô de pouco mais de um metro de altura que executa tarefas a partir orientações recebidas por uma plataforma Linux. “Os robôs PR2 são uma espécie de smartphone da robótica, com sua própria loja de aplicativos e kit de desenvolvimento em código aberto”, conta o criador da startup.
Após desenvolver o robô articulado com câmera de 10 MP nos olhos e braços articulados e com garras capazes de realizar movimentos como ajustar parafusos, transportar caixas de um local a outro e até manusear itens delicados, como copos de vidro e pratos de louça, Hassan focou seus esforços em criar um SDK, nome dado aos kits de desenvolvimento de software, para que qualquer programador possa criar uma lista de tarefas para o PR2.
Entre as aplicações já disponíveis estão um aplicativo que transforma o robô numa espécie de estivador digital, capaz de organizar caixas num estoque de armazém ou carregar e descarregar um caminhão. Há também aplicativos para uso em situações de teletrabalho. O robô PR2 pode, por exemplo, representar uma pessoa em uma reunião remota, uma vez que capta imagens e sons do local em que está e as transmite para uma interface web, acessível por qualquer dispositivo com uma tela e um browser, seja um desktop, uma tela de LCD numa sala de projeção ou um iPhone em um aeroporto.
“Com o avanço do teletrabalho, o PR2 pode representar um executivo numa reunião ou acompanhar uma inspeção numa fábrica na China, por exemplo, sem exigir que o contratante que está na Califórnia precise viajar 20 horas num avião para chegar ao outro lado do mundo”, conta Hassan.
A interface em código aberto, o kit de desenvolvimento e as habilidades múltiplas do PR2 foram capazes de convencer fundos de investimento a doar pequenas fortunas para a Willon Garage, que usou os recursos para produzir 50 robôs que são, atualmente, testados em fábricas de carros, centros de logística e casas de família no Vale do Silício.
O principal obstáculo para o sucesso da Willow Garage é o custo de cada unidade de seus robôs autônomos. Atualmente, um exemplar custa 285 mil dólares, o equivalente a mais de meio milhão de reais. O peso do custo levou Hassan a lançar, no início de 2013, uma spin off para explorar a aplicação mais rentável de sua startup, os robôs para teletrabalho.
Chamada de Switable Technologies, a spin off da Willon Garage trabalha com uma dúzia de empresas no Vale do Silício para compreender suas necessidades e tentar adaptar o PR2 para atuar no ambiente corporativo. O uso mais comum do robô é para aumentar a interação em reuniões de telepresença e também para assegurar que executivos muito requisitados estejam em vários lugares ao mesmo tempo.
Segundo Hassan, a spin off é uma forma de viabilizar o avanço do desenvolvimento de soluções robóticas. “Nós fizemos muitos testes com nossos robôs nos últimos anos e decidimos que agora é o momento de entrarmos no mundo das oportunidades comerciais. A robótica tem que se mostrar lucrativa para viabilizar a continuidade de nossas pesquisas”, diz o ex-Googler.
A criação de uma divisão que focará esforços em explorar oportunidades comerciais fez muitos entusiastas da start up Willow Galow acreditarem que a era de experimentação e inovação chegou ao fim para a jovem empresa da Califórnia. Hassan, no entanto, nega esta análise pessimista. “Estamos muito focados em criar aplicações úteis, criativas e comercialmente viáveis para o PR2.
O fato de buscarmos projetos rentáveis com nossa spin off assegurará fundos para que pesquisemos ainda mais soluções para nosso robô”, diz o fundador da Willow Garage. Para Hassan, a era dos robôs domésticos está apenas em sua fase mais embrionária. “Haverá muito desenvolvimento na robótica doméstica nos próximos cinco ou dez anos. Os robôs vão morar em nossas casas”, afirma Hassan.







