RIO — A região do Vale do Silício, na Califórnia, é conhecida no mundo
pela inovação. Lá estão sediadas as maiores empresas de tecnologia e, quase
diariamente, novas start-ups surgem com o sonho de se tornarem gigantes. Porém,
para alguns empreendedores os limites éticos não são barreiras para a criação
de negócios e a opinião pública ou o próprio governo são chamados a reagir. A
última polêmica é o “ReservationHop”, site que cria reservas em restaurantes
disputados em San Francisco e as revende por taxas que variam entre US$ 5 e US$
12.
Lançado na última quinta-feira, o serviço virou alvo de duras críticas,
muitas vindas do setor de restaurantes, que pode ser diretamente impactado caso
as reservas não encontrem compradores.
— Um aplicativo como esse, apesar de não violar regras ou leis, tem o
potencial de prejudicar pequenos negócios que confiam que as reservas vão
aparecer para o jantar. O que acontece com as reservas se ninguém comprar? —
questionou o chefe Richie Nakano, do asiático Hapa Ramen, em entrevista ao site
ValleyWag.
Após ser bombardeado por críticas, o criado do aplicativo, Brian Mayer,
explicou em seu blog que a ideia para criar o serviço surgiu enquanto esperava
por 30 minutos para comer um burrito em um restaurante local. O empreendedor
assume que ele mesmo faz as reservas e define o preço “de acordo com o custo do
restaurante e a antecedência necessária para se fazer a reserva”.
“E eu tenho a política de ligar e cancelar as reservas não vendidas,
porque eu não quero afetar os restaurantes”, afirmou Mayer.
Ética? O consumidor decide
Mas sobre os limites éticos, Mayer deixa claro que não refletiu muito
sobre o assunto e desvia o questionamento para o consumidor, que escolhe pagar
ou não pelas reservas.
“Para ser honesto, não perdi muito tempo pensando nessas questões
(éticas e legais). Eu construí o site como um experimento para a demanda do
consumidor por um produto particular, e o juri ainda está decidindo se ele vai
funcionar”, afirmou.
Se o negócio está ou não funcionando, ainda é cedo para avaliar. Mas,
apesar das críticas, tem gente pagando para “furar a fila” nos restaurantes.
Para a próxima sexta-feira, por exemplo, das quatro reservas ofertadas, duas já
foram vendidas.
Prefeitura proíbe “leilão de vagas”
O ReservationHop é o segundo serviço em menos de um mês que levanta
discussões éticas sobre as start-ups no Vale do Silício. No fim de junho, a
prefeitura de San Francisco foi obrigada a proibir o funcionamento de dois
aplicativos, o MonkeyParking e o Parkmodo. O motivo: eles permitiam que
motoristas leiloassem as vagas que estavam parados quando fossem sair com o
carro.
“A tecnologia tem criado muitas inovações louváveis que facilitam o modo
como vivemos e trabalhamos, mas o MonkeyParking não é uma delas”, afirmou o
promotor público Dennis Herrera, em comunicado.
Segundo a prefeitura de San Francisco, os aplicativos violaram lei
municipal que proíbe que qualquer pessoas “alugue, venda ou faça contratos
sobre o uso de qualquer rua ou calçada”. Por sua vez, o MonkeyParking
argumentava que as pessoas estavam apenas vendendo a informação da hora da
partida, não alugando o espaço da vaga.