



A Igreja Católica conjurou grandes poderes econômicos e políticos entre os séculos VIII e XI. Esse acúmulo de poderes possibilitou muitos ultrajes e ataques, esse sínodo é um dos eventos mais grotescos que ocorreram na Igreja Católica, uma história surpreendentemente praticamente desconhecida.
Um dos acontecimentos mais inusitados da história do papado é o julgamento post mortem do Papa Formoso, pontífice entre os anos de 891 e 896.
A peculiaridade desse processo judicial é que foi realizado pessoalmente, ou seja, o cadáver do papa,ele foi retirado de seu túmulo, vestido com as vestes pontifícias e sentado em um trono para ouvir as acusações feitas contra ele.
Aparentemente manteve-se calado durante todo o processo, dando origem ao princípio de que “quem se cala, concede” foi-lhe aplicado e por este motivo foi condenado.
Formoso havia participado,como outros papas de seu tempo, das disputas que as famílias nobres da Itália travavam para impor sua primazia na região.
Após sua morte, uma das facções às quais ele se opôs tomou o poder e o controle de Roma.
Isso levou o Papa Estêvão VI, um defensor do novo lado, a concordar em realizar um julgamento tão estranho.
Os relatos do acontecimento são grotescos: o corpo de Formoso, falecido e sepultado há nove meses, foi levado para a Basílica Constantiniana onde foi amarrado a uma cadeira, não tanto por medo de fuga, mas para mantê-lo em pé.
Após sua sentença pelo sínodo, ele foi despojado das vestes sagradas e os três dedos com os quais ele deu bênçãos foram amputados.
Seu pontificado foi anulado e, consequentemente, todos os seus atos como chefe da Igreja.
Seu cadáver foi jogado no "poço dos condenados e desconhecidos" e finalmente nas águas do Tibre, para que desaparecesse para sempre.
Segundo a lenda, seu corpo foi parar nas redes de um pescador que o mantinha escondido.
Anos depois os ventos da política italiana mudaram novamente e Formoso foi reintegrado e voltou para San Pedro onde ainda descansa até nova ordem judicial.
Como parte da pena, Formoso foi submetido à chamada damnatio memoriae, sanção do direito romano que consistia no apagamento de toda a memória do condenado.
Isso incluiu a demolição de monumentos, a remoção de inscrições e, em alguns casos, até a proibição da menção de seu nome.
Esta prática do Senado Romano, que Estêvão VI usou para condenar seu predecessor, não era exclusiva de Roma, ela também foi colocada em prática no antigo Egito. Tampouco é exclusivo do mundo antigo e do início da Idade Média.
Uma pintura do francês Jean-Paul Laurens mostra a cena do papa vivo acusando o falecido.
Se mais de mil anos depois podemos falar de Formoso é porque a damnatio memoriae de Estêvão VI não teve tanto sucesso.
Quem escreve isso é inimigo do esquecimento. https://brasilescola.uol.com.br/biografia/formosopapa.htm