Entre as mulheres, foram confirmados 579 óbitos causados por AVC, uma média de 48 casos por ano. Do total de mortes registradas entre as mulheres, 353, ou 60,97% foram na cidade de Fortaleza.
Em resumo, foram 1.213 óbitos registrados por AVC no Ceará entre 2008 e setembro de 2019, na faixa etária de zero a 49 anos de idade. Sendo 52,27% em homens e 47,73% em mulheres. "Estudos relatam serem comuns, em casos de AVC, a ansiedade, a depressão, os distúrbios do sono e da função sexual, distúrbios motores, sensoriais, cognitivos e de comunicação, e alterações fisiológicas durante atividades físicas (dispneia, angina, hipertensão), que causam limitações para o retorno ao trabalho produtivo", diz Fábio Lessa, médico do Departamento de Saúde do Coletiva do Centro de Estudos e Pesquisa Aggeu Magalhães, de Recife.
Reabilitação
Pesquisa realizada pela entidade pernambucana com pessoas que tiveram o primeiro AVC entre 20 e 59 anos (com média de 52 anos) mostrou que em apenas 20% dos casos houve recuperação total, e nos outros 80% déficit em alguma capacidade, além do aumento de casos de depressão.
Logo que recebeu os primeiros atendimentos, George seguiu para a reabilitação com fonoaudiólogos e fisioterapeutas. De longe, caminhando na rua para a farmácia em que trabalha, nada de diferente se percebe; próximo, vê-se uma pequena inclinação no olho direito e no canto da boca. "Foi o que herdei desse acometimento. Sinceramente? Tô no lucro, porque agora passei a me cuidar melhor. Hoje eu me alimento bem, faço exercícios físicos e valorizo mais a vida, apesar de um abatimento aqui e acolá". Hoje, com 34 anos de idade e há nove desde o AVC, o farmacêutico faz terapia com psicóloga uma vez por semana há três anos. "Deve-se ter muita atenção nos casos de Acidente Vascular Cerebral nessas faixas consideradas mais jovens, porque estão associadas ao modo de vida, como uso de drogas, excesso de álcool e o estresse. Não um estresse de um ou outro momento, que isso é comum a nós, mas um estresse mais duradouro. Outra questão a ser observada é que, muitas vezes, em casos de AVC em jovens, há ocorrências na família de pessoas que também tiveram AVC ainda jovens, como é o caso de um avô que teve quando jovem e como isso pode afetar as gerações seguintes", afirma Fabrício Lima, diretor da Unidade de AVC do Hospital Geral de Fortaleza.
De acordo com o médico neurologista, 12% dos casos que chegam à unidade são de pessoas com menos de 50 anos. "Quando aparecem casos de menos de 30 anos é incomum, mas em tese não deveriam ocorrer".
A unidade de AVC é composta por médicos neurologistas, enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. O atendimento integral acontece em 20 leitos de internação. A unidade tornou-se uma referência também por ter sido a primeira no Estado a oferecer tratamento a partir do trombolítico. O medicamento diminui em 50% as sequelas da doença e em 30% a mortalidade.
De janeiro a setembro, o HGF atendeu 611 pacientes. Os hospitais regionais do Cariri e do Sertão Central atenderam, juntos, 1.527 pessoas de dezenas de municípios.
"A tecnologia para a saúde aumenta, mas o avanço se torna pouco quando é para acompanhar outro: o de um modo de vida cada vez mais estressante, barulhento e gorduroso. É como posso resumir essa modernidade. A medicina evolui para alcançar os males intensificados pela própria modernidade", acredita Saulo Gonçalves, sociólogo pela Universidade Estadual do Ceará.
Assim como ele, médicos ouvidos pela reportagem destacam que a vida cada vez mais estressante e o consumo de coisas cada vez mais artificiais são uma mola propulsora para situações como o AVC.







