ELEIÇÕES EM FORTALEZA 11/06/2016
Faltando mais de um mês para o início da campanha para prefeito de Fortaleza, o submundo da política já atua com objetivo de desgastar imagem dos atuais pré-candidatos. Postagens patrocinadas com autoria anônima se proliferam.Crescem, em número e potência, páginas na rede social Facebook com objetivo explícito de atacar pré-candidatos à Prefeitura de Fortaleza. No espaço infinito e gratuito da rede, a voz de autores anônimos, em sua grande parte, chega a milhares com pouco controle e grande espaço de investimento financeiro para impulsionar as publicações.
Sem filiações explícitas a partidos ou pré-candidatos, as páginas ganham tom de imparcialidade e justiça social. Roberto Cláudio (PDT), atual prefeito de Fortaleza e pré-candidato à reeleição, é o alvo mais comum dos grupos.
A página “Fortaleza Sem Prefeito” foi inaugurada em maio, já conta com mais de 7 mil seguidores no Facebook e não esconde o intuito de combater a campanha de RC.
“Queremos expor os problemas de Fortaleza. O prefeito está fazendo uma maquiagem na cidade”, diz um dos administradores da página, que não quis revelar a identidade.
Ao explicar o motivo do anonimato, explica que a administração é composta por servidores públicos e que “qualquer crítica à gestão é motivo de perseguição” e “assédio moral”. Reconhece, porém, que “anonimato prejudica a confiabilidade” do público”. “Mesmo assim, a página vem crescendo”, avalia.
Como grande parte das páginas, a “Fortaleza sem Prefeito” paga constantemente ao recurso de promoção de publicações do Facebook, para alcançar destaque na linha do tempo de usuários.
“Somos uma classe mobilizada, indignada. O que é gasto é muito irrelevante. Se hoje gastamos mil reais por mês com patrocínio e atendemos às nossas expectativas, a tendência é gastarmos mais”, diz o anônimo.
O caráter de portal de notícias é incorporado por muitas páginas que se supõem isentas. Para tanto, há as que reproduzem o conteúdo da página em sites homônimos, passando ainda mais impressão de informação fidedigna. Entretanto, ataques a candidatos e partidos específicos ainda podem ser verificados.
A página “Notícias da Política Cearense”, também criada recentemente, faz o inverso. Em suas publicações, procura fragilizar os adversários de Roberto Cláudio e promover sua candidatura sob aparência de veículo de notícias sem filiação partidária. Um dia após tentativa de contato do O POVO, a página foi retirada do ar.
Capitão Wagner (PR) é questionado pela página “Ceará Notícias” por sua aliança com tucanos. No destaque, o conteúdo sugere que o deputado estadual estaria acendendo “uma vela para Deus e outra para o diabo” em publicações de abril e maio, que alcançaram mais de 2 mil compartilhamentos cada.
O número é incomum na página. Há publicações frequentes, mas com média de “curtidas” inferior a 10. Apenas material de ataques políticos é impulsionado.
A ex-prefeita e deputada federal Luizianne Lins (PT) e os deputados estaduais Heitor Férrer (PSB) e Renato Roseno (Psol) também são alvos de ataque. (veja quadro ao lado)
Os administradores foram contatados para esclarecimentos. Entretanto, não houve resposta até o fechamento desta página.
O pensamento do “eleitor identificado na internet” é livre e “somente é passível de limitação quando ocorrer ofensa à honra de terceiros ou divulgação de fatos sabidamente inverídicos”, de acordo com o artigo 21 da Resolução nº 23.457 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sobre propaganda eleitoral na internet. Conforme explica Isabel Mota, especialista em direito eleitoral, o “anonimato é proibido” também na “propaganda pré-eleitoral”. A pessoa que se sentir ofendida, diz a advogada, “deverá entrar com uma representação para identificar o responsável pela página e pelo conteúdo. ”Uma vez identificado, esse poderá ser punido tanto na área eleitoral quanto na área cível.
Se for uma propaganda falsa e ofensiva, pode ir além de multa e responder criminalmente.“
Queiroz Barbosa é exceção à regra. Em sua página, “Fortaleza Abandonada”, não teme mostrar o rosto e esconder a filiação ao PMDB. “A maioria das páginas são falsas. Muitos administradores são vereadores que querem ser oposição mas não mostram a cara com medo”, diz.