Visitar o "maravilhoso mundo da Disney" faz parte dos
sonhos de uma grande parcela dos brasileiros. Não à toa, o número de
turistas que saem do Brasil para visitar o mundo encantado fundado em
1971 cresce a cada ano. No entanto, o também crescente número de furtos
que têm acontecido em Miami e em Orlando nos últimos meses causa
preocupação nos turistas canarinhos que vão às terras de Tio Sam.Rosangela, Tatiane, Adriana e Beatriz (da esquerda para a
direita) foram viajar para os EUA pela primeira vez neste mês de
setembroFoto: Facebook/nathbhoerlle / Reprodução "Depois do sonho, veio o pesadelo". Foi assim que a
técnica de enfermagem Adriana Bacelar, 39 anos, descreveu a viagem que
fez para Orlando neste mês de setembro, a primeira para os EUA. Adriana
viajava ao lado da irmã Rosangela e das amigas Tatiane e Beatriz Pio,
também irmãs. O plano das brasileiras era visitar a cidade
para comemorar o aniversário de Adriana - que foi no último dia 11 - e
de Beatriz - que será no próximo dia 29. Mas, no meio da viagem, algo
fugiu do planejado.Segundo Beatriz, na noite do último dia 15, depois de
mais um dia de diversão, elas retornaram ao quarto do Hotel Quality
Inn, em que estavam hospedadas, e se depararam com um lugar
completamente revirado."Levaram malas inteiras. O cofre e a porta do quarto
foram arrombados. Ficamos sem cartão de crédito, passaportes, ingressos
para o parque da Universal, passagens aéreas... Enfim, (levaram) tudo."
Adriana estima que o grupo tenha tido um prejuízo de cerca de US$
14 mil (cerca de R$ 34 mil), incluindo compras e dinheiro vivo.
Quarto das amigas foi encontrado revirado na noite do último dia 15Foto: Facebook/adriana.bacelar.39 / Reprodução
Desesperadas, as brasileiras procuraram os seguranças e
funcionários do hotel, que, segundo ela, agiram como se o caso não fosse
nenhuma surpresa. "No mesmo dia, arrombaram outro quarto proximo ao
nosso. Os hóspedes eram equatorianos, não tinham comprado nada e nada
foi levado", lembra Adriana. A brasileira disse ainda que as câmeras
instaladas nos corredores do hotel não estavam funcionando.
O Consulado-Geral do Brasil em Miami diz que o número de
relatos de viajantes brasileiros que tiveram seus pertences e
documentos roubados cresceu nos últimos anos. Em 2012, quando 1,6 milhão
de brasileiros visitaram a Flórida, foram registrados 117 casos de
furtos. Em 2013, com 1,7 milhão de brasileiros no estado, 224
ocorrências foram registradas. Em 2014, até o dia 23 de setembro, 119
furtos já foram reportados.
As ocorrências registradas neste ano concentram-se em
Miami (29%) e em Orlando (26%). Outros casos foram reportados nas
cidades de Miami Beach (10%), Sunrise (8%), Doral (7%) e Aventura (6%).
Do total de vítimas, 133 tiveram seus veículos arrombados.
O casal Nathalya e Igor Godoy também sofreu com a viagem
feita aos Estados Unidos, neste mês. No último dia 19, enquanto eles
aproveitavam uma viagem para a Disney, em comemoração a um ano de
casados, os dois também tiveram o quarto de hotel saqueado. Eles estavam
hospedados no Disney All-Star Sports Resort, hotel localizado dentro do
complexo de parques. A medida teria sido tomada "por segurança".
Nathalya publicou fotos do seu quarto após o furto. O casal havia se hospedado em um hotel dentro do complexo da Disney
Foto: Facebook/adriana.bacelar.39 / Reprodução
"Rasgaram nossas malas, arrombaram cadeados e roubaram
óculos, perfume, minha câmera fotográfica com memórias da viagem,
bermudas, tênis, fones de ouvido, camisetas", diz Nathalya em uma
publicação no Facebook, em que denuncia o ocorrido. As fotos do quarto
revirado foram compartilhadas por mais de 36 mil internautas. Segundo
ela, o prejuízo foi de quase US$ 3 mil (cerca de R$ 7,2 mil).
Devido às publicações feitas no Facebook, os casos do casal e das amigas brasileiras são
os mais conhecidos. No entanto, outras pessoas também relataram
episódios de furtos que sofreram durante a viagem ao estado americano.
"Furtaram os dólares que estavam dentro do cofre fechado
com senha digital", disse Adriana Oliveira, 40 anos, brasileira que
ficou hospedada no Monumental Hotel, em Orlando, no mês de janeiro.
Adriana fez a viagem ao lado de sua amiga Laís Jordany, 18 anos. "Minha
amiga ficou deprimida por dois dias e não queria mais sair do quarto.
Levaram todos os dólares que ela tinha", conta Adriana. Segundo ela, o
prejuízo foi de US$ 1.150 (cerca de R$ 2,7 mil). "Foi um prejuízo
lastimável."
"O gerente do hotel ironizou a gente, dizendo que
somente ele tinha a senha mestre e que ele não estava no hotel naquele
dia", afirmou Adriana, que diz que o atendimento policial foi
"excelente". Após fazer o boletim de ocorrência, todas as vítimas são
orientadas a entrar em contato com o Consulado do Brasil em Miami, que
as ajudam com as questões de passagens, passaportes e contatos com
advogados.
"A viagem durou onze dias e isso aconteceu no segundo
dia. Tentei trocar de hotel, mas o site das Americanas.com (onde ela
tinha adquirido as diárias) queria cobrar nova estadia para transferir a
gente. Mesmo encaminhando os comprovantes do boletim de ocorrência,
eles não fizeram nada", explica Adriana, que teve que passar os demais
dias da viagem no mesmo hotel onde o crime aconteceu.
Nos dias seguintes, a turista brasileira aproveitou para
gravar um vídeo em que mostra a recepção do hotel abandonada, sem
nenhum funcionário. De acordo com Adriana, a falta de
vigilância coloca a segurança dos hóspedes em risco.
Mesmo com o crescimento do número de furtos na Flórida, o
Consulado-Geral considera a incidência pequena, em comparação com o
número de turistas brasileiros no estado. A entidade ressalta ainda
que os lugares em que furtos ocorrem com maior frequência são aqueles de
grande concentração de pessoas, como parques temáticos e atrações
turísticas, hotéis e grandes centros de compra.
"O policial nos falou que, em todos os dias, estão
fazendo boletins de ocorrência em hotéis", diz Adriana Bacelar, que
viajou com a irmã e as amigas. "Programamos essa viagem há mais de um
ano. Estava tudo tão perfeito, aí acontece isso. Ficamos muito
chateadas, choramos demais e ficamos dois dias praticamente sem dormir",
disse ela, que afirma que voltaria a Orlando, mas jamais "passaria em
frente" ao hotel em que sofreu o crime