Ontem o prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) sancionou o Plano Diretor da cidade, que estabelece, entre outras coisas, a meta de aumentar a densidade ao longo dos eixos de transporte. A ideia é boa,
pois pessoas vivendo mais próximas umas das outras significa redução de
deslocamentos e de gastos com energia. Mas é importante estabelecer
parâmetros que definam, afinal, de que densidade estamos falando?
Grosso modo, densidade é uma relação de proporção, em que divide-se o número de moradores de determinada localidade pela área total de seu território. Oficialmente, por causa de sua dimensão continental, o Brasil tem (ridículos) 24 habitantes por quilômetro quadrado, de acordo com os dados do IBGE. Mas essa metodologia, embora seja a mais usada, traz algumas distorções, porque não considera que dentro das áreas analisadas existam espaços que simplesmente não podem ser habitados, como rios, lagoas, montanhas, florestas, desertos, faixas de areia etc.
Grosso modo, densidade é uma relação de proporção, em que divide-se o número de moradores de determinada localidade pela área total de seu território. Oficialmente, por causa de sua dimensão continental, o Brasil tem (ridículos) 24 habitantes por quilômetro quadrado, de acordo com os dados do IBGE. Mas essa metodologia, embora seja a mais usada, traz algumas distorções, porque não considera que dentro das áreas analisadas existam espaços que simplesmente não podem ser habitados, como rios, lagoas, montanhas, florestas, desertos, faixas de areia etc.
No caso brasileiro, se olharmos apenas áreas urbanas, a taxa de
densidade dispara. Vai de 24 para 10.500 pessoas por quilômetro
quadrado, em média. A área urbana mais densa do país é a de Fortaleza.
Ali, moram em cada quilômetro quadrado cerca de 7.800 pessoas. O número é
maior que os de São Paulo, Belo Horizonte, Recife ou Rio de Janeiro,
que são, respectivamente, segunda, terceira, quarta e quinta maiores
densidades do país, não à toa locais bastante urbanizados.
*
Por esse raciocínio, e com base nos dados da ONU, dá para
estabelecer dois tipos de ranking mundial de densidade. O primeiro,
considerando a área total dos países:
1º) Macau: 20.500 pessoas por quilômetro quadrado
2º) Singapura: 7.700 pessoas por quilômetro quadrado
3º) Hong Kong: 6.500 pessoas por quilômetro quadrado
4º) Bangladesh: 1.100 pessoas por quilômetro quadrado
*
E o segundo, considerando apenas as áreas urbanizadas desses países (percebam como as taxas disparam):
1º) Bangladesh: 75.000 pessoas por quilômetro quadrado urbano
2º) Macau: 26.000 pessoas por quilômetro quadrado urbano
3º) Hong Kong: 25.500 pessoas por quilômetro quadrado urbano
4º) Índia: 24.500 pessoas por quilômetro quadrado urbano
*
Singapura, por ter seu território inteiramente ocupado por
edificações, fica com a mesma taxa nos dois cálculos e por isso cai
várias posições no segundo modelo de cálculo e fica atrás até mesmo do
Brasil.
*
Claro que, mesmo nessa metodologia de considerar apenas áreas
urbanas, há variações entre as regiões de uma mesma cidade. Em Hong
Kong, por exemplo, alguns bairros chegam a concentrar nada menos do que
400.000 pessoas em um mesmo quilômetro quadrado. Isso acontece por três
razões: em 75% do território, que é bastante acidentado, não tem
construção alguma. Além disso, a região só se desenvolveu a partir de
1970, quando um intenso boom demográfico levou os cidadãos a se
instalarem rapidamente do jeito que dava. Para acomodar tanta gente num
espaço disponível tão restrito, a cidade se valeu de gigantescos arranha
céus, que comportam milhares de moradores e chegam a dar tontura quando
encarados do chão. Por fim, há uma razão econômica, pois o preço para
morar nesses mega prédios é o que a maioria da população pode pagar, já
que o preço da terra é muito caro. Assim, Hong Kong é considerada a
cidade mais densa do mundo e tem hoje mais de 7 milhões de habitantes em
1.000 quilômetros quadrados, área um pouco maior do que a de Paraty, no
Rio de Janeiro, onde moram 33.000 pessoas.
*
O fotógrafo alemão Michael Wolf ganhou fama com a série Arquitetura de Densidade (Architecture of Densitiy),
iniciada a partir de 1994, quando foi morar em Hong Kong. Sua grande
sacada foi retratar a densidade sem mostrar viv’alma, relevando apenas a
enorme concentração de janelas, portas e sacadas, repetidas com tamanha
intensidade que mais parecem estamparia de tecido do que construções
reais. É como se a metrópole fosse, acima de tudo, uma máquina de morar.
Por isso, quando se discute densidade, seja para uma análise de Plano
Diretor ou do funcionamento de cidades ou países, é preciso ter bem
claro a resposta para a pergunta feita no início do post: afinal, de que
densidade estamos falando?
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário
365 DIAS