Como investimento de R$ 60, alunos desenvolvem um
destilador que produz até 3 litros de água em um período de 3 dias
O sertão do Ceará, assim
como boa parte da região Nordeste do Brasil sofre com as consequências da seca.
Pensando nisso, estudantes de Juazeiro do Norte, no Ceará desenvolveram um projeto de reuso de água para amenizar
a seca. Os alunos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia
do Ceará (IFCE) Adelaide Laleska de Oliveira, Francisco Júnior e Larissa Brenda
criaram o projeto Reciclagem
de águas residuárias a partir de destilador fototermofuncionalcom
auxílio do professor de química Ricardo Fonseca.
Inspirados pela
necessidade, os alunos desenvolveram uma solução para amenizar a seca com custo
de produção de apenas R$
60. Pela sua eficácia, o projeto já possui uma proposta de
industrialização de autoria do empresário Gilmar Bender, proprietário da
Bendermix e Tecnolity, empresas de concreto e de calçados, respectivamente.
Projeto na prática
O trabalho propõe a
construção de um sistema, de baixo custo, a partir de materiais acessíveis,
onde a energia motriz é advinda da energia solar, que por destilação tende a
melhorar as características das águas residuárias. A construção do sistema
diminui o descarte inadequado e aumenta
a oferta de água limpa.
O
sistema foi construído no solo, em profundidade adequada ao uso de instrumentos
de escavação manual, e para a água não infiltrar no solo, a estrutura é
impermeabilizada, com sacolas de cor preta, para melhor absorver o calor e
potencializar o processo de evaporação. A água resultante foi utilizada para
irrigar, por gotejamento, uma horta de alface e coentro, desenvolvida em
um canteiro com solo salinizado, pouco fértil, afim de acompanhar o
desenvolvimento das sementes e possíveis mudas.
Após a
utilização da água resultante do sistema na horta, constatou-se que as mudas
cresceram em média 10% a mais do que o tamanho informado na embalagem das
sementes, superando todas as expectativas. Concluiu-se também que a água
pode ser utilizada em diversas atividades, dentre elas as agrícolas e as
domésticas. O trabalho produz de 2 a 3 litros de água em um período de 3
dias.
Prêmios
Além de
participar de feiras nacionais e internacionais, os jovens inventores já
conquistaram 8 prêmios com o projeto Água Renovada. (FOTO: Arquivo pessoal)
A
partir de apresentação de seminários e trabalhos científicos em sala de aula,
os alunos se sentiram motivados a investir nos experimentos, participando de
maratonas e olimpíadas de química. Com o apoio do professor, eles acreditaram e
não pararam mais. Participaram da I e II Expo-MILSET Brasil, em Fortaleza, onde
ganharam o credenciamento para a AMLAT, que acontecerá em Mendellin (Colômbia);
da Fecitec/MA onde alcançaram o 2º lugar nas engenharias, sendo credenciados
para os Semlleros em Bogotá, mas não puderam comparecer.
Também
estiveram presentes na FEBRACE/USP, onde foram conquistaram seis premiações, dentre
elas o prêmio Unesco de inovação, segundo lugar geral nas engenharias agrárias
e o prêmio Inovação ABRIC. Nesta ocasião, o grupo também alcançou o prêmio Professor
Destaque FEBRACE/USP 2014. Além destes, participaram de
um concurso cultural em um programa de TV onde conquistaram o primeiro lugar e
um prêmio de R$ 30 mil. Todas as participações são registradas no blog do grupo.
Como começou
“Todos os sábados o professor Ricardo realizava aulas específicas preparatórias
para Olimpíadas. Em uma das aulas ele pediu pra que a gente se dividisse em
grupos de três, então foi aí que começou a nossa amizade”, relembra Laleska.
Foram vários trabalhos desenvolvidos, alguns não deram certo e outros
adaptados. Até que Larissa Brenda assistiu um documentário na TV que abordava a
sobrevivência no deserto. Em consequência disso, a estudante viu que poderia
aplicar a técnica ou adaptá-la e começou a testar no quintal de casa. Depois,
convidou os amigos Francisco Júnior e Adelaide Laleska de Oliveira para
ajudarem. Finalmente, com a orientação do professor Ricardo Fonseca puderam
elaborar o projeto e executá-lo. No início foi difícil
conciliar o tempo, pois os três alunos só tinham horário disponível no domingo
à tarde. Até que devido às frequentes reuniões que o projeto exigia, eles
conseguiram se organizar. Adelaide Laleska, que trabalhava e estudava teve que
abandonar o emprego para se dedicar totalmente aos experimentos. “Depois dos
prêmios e das participações nas feiras científicas fomos convidados a dar
palestras, programas de TV e de rádio. Também precisamos aprender a escrever
melhor porque para apresentar o trabalho temos que escrever relatórios com uma
linguagem científica”, explica Laleska de Oliveira.Os
estudantes passaram por dificuldades pois precisam de dinheiro para criar
banner e folders que seriam utilizados na apresentação. Juntos, iam ao mercado
da cidade vender salgados, pastéis e até uma almofada. A renda auxiliou com os
gastos durante as viagens. Em uma das viagens, o grupo teve de dormir no
aeroporto porque não tinham dinheiro para pagar mais uma diária no hotel.
O biólogo
e químico Ricardo Fonseca atua como professor há 34 anos e ama a carreira
docente. (FOTO: Arquivo Pessoal)
A
grande dificuldade é que o trabalho dos alunos e do professor é voluntário. Os
editais que surgem só beneficiam doutores, com titulação mínima. Como o
professor Ricardo Fonseca está terminando o mestrado ainda não pode ser
beneficiado com os editais. Dessa forma, alimentação, transporte e hospedagem
ficam por conta do grupo.
Esses
gastos são necessários porque para a implantação do projeto é necessário
coletar dados e amostras do local, ou seja, o deslocamento até o lugar onde o
experimento será implantado é imprescindível. “O IFCE ajuda com os materiais,
que são de baixo custo, mas gasolina, comida e todo o resto é por nossa
conta”, declara Ricardo Fonseca.
Além do Água
Renovada, o professor orienta 11 trabalhos científicos que estão em
andamento, dois projetos que seguem mesmo após os alunos concluírem os estudos
no IFCE e outros que não podem ser citados. “Em virtude da grande concorrência
no campo das ideias, pode atrapalhar a pesquisa e temos que levar em
consideração o plágio e os direitos autorais”, justifica o docente que está há
34 anos na profissão. Fonseca é biólogo e químico, mas considera a carreira de
professor como paixão. “Ser professor, é tudo, poder fazer a diferença na vida
dos outros influencia diretamente na minha, amo esta profissão”, revela.
Felizes
com os resultados, os alunos destacam a importância em ter um professor para
orientá-los. “Todo ano ele faz uma festinha e entrega os certificados nos
parabenizando. Então vimos que era vez de homenageá-lo, então preparamos uma
festinha e entregamos a ele o certificado de ‘Professor Exemplar’. Ele ficou
muito feliz e nós mais ainda em tê-lo como nosso amigo”, relembra Laleska.
Preparação internacional
O IFCE
dá um auxílio e os jovens buscam patrocínio para os gastos da viagem. Para a
apresentação do Água Renovada em Medellín (Colômbia) eles conseguiram o apoio
do empresário Gilmar Bender, que pagou as passagens aéreas. Além disso, Júnior,
Laleska e Larissa consultaram uma professora do IFCE para traduzir o trabalho
para o espanhol. A apresentação oral também foi traduzida e os alunos, que não
são fluentes da língua, estão treinando as orientações dadas pela professora.
“Estamos muito empenhados e nos preparando para fazer uma boa apresentação.
Queremos mostrar às pessoas que nos ajudaram que vale a pena investir em
ciência”, conta Adelaide Laleska.
Para
angariar fundos, os estudantes pediram patrocínio ao empresário Gilmar Bender,
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