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segunda-feira, 8 de junho de 2015

ÁLCOOL IRREAL

Vídeos no YouTube mostram apenas lado glamouroso das bebidas alcoólicas, diz estudo
Pesquisadores americanos acreditam que representação irreal do consumo de álcool na web pode influenciar jovens POR MARINA COHEN
21/02/2015 7:00 / ATUALIZADO 23/02/2015 9:27

Para especialistas, jovens estão mais sujeitos a influência de vídeos que mostram apenas lado bom do álcool- Divulgação/I Hate Flash

RIO - Os muitos vídeos de humor e clipes de música pop que contêm cenas de bebedeira podem estar influenciando o comportamento de adolescentes e jovens adultos. Um estudo recente sobre vídeos do YouTube revelou que grande parte das peças que exibem consumo de bebidas alcoólicas combinam “porres homéricos” com humor e sensualidade, e raramente mostram as consequências negativas disso. Esse retrato nada fiel da realidade pode estar levando os jovens a beberem cada vez mais.

— Os jovens podem ser muito impressionáveis — adverte Primack. — Quando eles vêem o álcool sempre relacionado a humor, sensualidade e consequências positivas, tomam essas associações como verdadeiras. Já o adulto consegue analisar mais criticamente as mensagens. Por isso, é importante que os pais e professores ensinem esse tipo de análise crítica a seus filhos e alunos.

Segundo Primack, que publicará o resultado de seu levantamento na edição de março da revista “Alcoholism: Clinical & Experimental Research”, vários estudos já relacionaram filmes que contêm abuso de álcool com o comportamento dos espectadores na vida real. Mas, até então, o YouTube ainda não havia sido estudado nesse contexto com grande rigor. Então Primack e seus colegas selecionaram os 70 vídeos mais relevantes e populares do portal relacionados à intoxicação alcoólica. Depois, criaram 42 códigos em seis categorias: características do vídeo, caráter sócio-demográfico, representação da bebida alcoólica, grau de uso do álcool, as características associadas ao álcool e as consequências do álcool.

— Os 70 vídeos têm aproximadamente quatro minutos de duração e, combinados, foram vistos um terço de um bilhão de vezes — ressalta Primack, para exemplificar o enorme alcance do conteúdo.

Os vídeos tendem a mostrar mais homens do que mulheres, e quase a metade deles (44%) se refere a uma marca específica de álcool. Os sinais de intoxicação aparecem em 86% das peças, mas apenas 7% dos vídeos se referem à dependência do álcool. A pesquisa também constatou que os clipes ganham mais “curtidas” quando o humor está presente, e seus espectadores ficam com um “sentimento positivo” maior quando o nome de uma marca específica é mencionado, quando álcool é mencionado e quando a sensualidade está evidente. No entanto, o sentimento não é tão positivo quando são citadas consequências negativas — emocionais ou físicas.

PREVENÇÃO NÃO PODE SER ‘CHATA’

A psicóloga Daniela Schneider, representante do Conselho Federal de Psicologia, não tem dúvidas de que os exemplos presentes da mídia influenciam a população e ainda mais fortemente os jovens, que estão mais abertos a experimentações.

— A prova disso é a própria campanha brasileira contra o tabaco. Ela proibiu a propaganda na TV e restringiu a aparição dos cigarros em filmes, clipes etc. Depois disso, houve uma significativa no padrão de consumo do brasileiro — opina a professora da Universidade Federal de Santa Catarina, que, no entanto, aponta que a prevenção que bate na tecla do lado negativo do álcool não tem se mostrado eficaz. — Em vez disso, seria mais eficaz apresentar ao jovem outras possibilidades de prazer que não envolvam o álcool: a cultura, o esporte, o lazer... A família e a escola são têm um papel fundamental na hora de mostrar essas opções.

Diretora do Programa de Pesquisa da Família e da Juventude da Universidade de Pittsburgh, Brooke Molina considera “relevante” que bebidas de alto teor alcoólico (como vodca e uísque) apareçam com frequência em vídeos de sucesso.

— O elevado teor de álcool dessas bebidas aliado à pouca capacidade dos adolescentes de reconhecerem seus limites leva a um risco grande desees jovens desenvolverem um hábito perigoso — analisa Brooke.

Apesar de, hoje, grande parte dos vídeos serem feitos de maneira irresponsável, Primack e Brooke acreditam que o YouTube pode ser usado para educar os jovens sobre a realidade do álcool.

— Seria um bom veículo para agentes de saúde pública divulgarem material — sugere Primack. — Os vídeos deveriam mostrar de forma mais precisa as consequências do álcool. Parece uma oportunidade perdida. A Associação ALS marcou um golaço ao lançar o desafio do balde de gelo, o que não exigiu muito dinheiro e chamou atenção para a causa.

Para Brooke, os resultados da pesquisa sugerem maneiras de tornar as mensagens de prevenção mais interessantes e atrativas.

— É útil saber que os vídeos que contêm lesões ou cenas de intoxicação alcoólica agradam menos, por exemplo — comenta Brooke. — Sendo assim, precisamos pensar em maneiras de incorporar o humor, para atrair os espectadores, e as consequências negativas do consumo excessivo, para educá-los.

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